Família Educa e Escola Ensina. E quando isso não acontece?

Família Educa e Escola Ensina

Família Educa e Escola Ensina, uma afirmação bem usual, verdadeira, mas polêmica.

Antes de começar o texto gostaria de deixar bem claro que concordo plenamente que a educação dever vir da família.

Ela é responsável pela educação básica, pelos exemplos de valores, ética, moral, honestidade, etc.

É também dever da família dar limites aos seus filhos, pois vivenciamos uma crise de total falta de limites das crianças. Tudo querem e tudo podem e obviamente estes reflexos vão para escola também.

Entenderam a minha posição quanto aos deveres educacionais da família?

Ok, então agora quero fazer o contraponto, não defendendo a família (pois já dei minha posição acima), mas analisando o cenário social, familiar e educacional que vivemos nos dias de hoje.

Cenário familiar:

Não podemos negar a existência de famílias desestruturadas, sem a mínima noção de educação básica, que não dão conta da sua própria educação familiar. Certamente porque não as receberam em sua infância e não foram educados pelos seus pais.

Portanto, não possuem estrutura moral, intelectual e ética para educar seus filhos.

Temos também a família cujos pais (assim como nós) trabalham em uma jornada de no mínimo 8 horas diárias, gastam mais 2 horas nos deslocamentos em transito, dormem 8 horas por noite e sobraram 6 horas “livres” das 24 horas do dia, onde estas 6 horas são divididas para afazeres do lar, estudo, diversão, alimentação, higiene pessoal e o tempo que sobra para “educar” seus filhos, caso eles não estejam na escola ou dormindo.

Família Educa e Escola Ensina

Novamente, não estou na defesa da família, mas sim constatando fatos que acontecem comigo, com você e com muitas outras famílias desta sociedade contemporânea.

Temos também a família permissiva, que nos poucos momentos que sobraram destas 6 horas mencionadas acima ou nos finais de semana querem paz e sossego e portanto dão brinquedos, tablets, filmes, livros e tudo mais que os filhos pedem, somente para entretê-los e silenciá-los por alguns minutos, tendo como recompensa o silêncio.

Família Educa e Escola Ensina

Portanto, são famílias que não dão limites aos filhos, que compram o silêncio da criança, dando tudo o que ela pede. Certamente, formam crianças mimadas  e educadas para ter e não ser.

Temos a família de pais separados e que não conseguem entrar em um acordo de como e quem educa o que.

Temos a família formada só pela mãe que assume papel duplo na educação e que para sustentar os filhos trabalha em dois empregos e faz a terceira jornada de trabalho quando chega em casa, tarde da noite.

Temos a família educada, com competências para educar seus filhos e no pouco tempo que estão juntos das crianças, as educam plenamente. O problema é que este tempo de convívio com os filhos é muito pequenos, diante dos fatos já explicitados acima.

Enfim, temos estes exemplos de famílias e muitas outras, que são diferentes das nossas famílias do passado.

Novos tempos e novas famílias.

Em nossa infância, éramos mais unidos, existia mais tempo disponível para os filhos, menos tecnologias e mais olho no olho.

Lembro-me perfeitamente da minha mãe que não precisava falar, bastava apenas olhar e eu já entendia que não podia aceitar mais uma fatia de bolo na casa dos meus avós.

Os tempos mudaram, a sociedade mudou, os comportamentos mudaram e certamente as famílias também mudaram. Sem defesa, apenas constatando fatos.

Família Educa e Escola Ensina

O cenário escolar:

Entendo o dilema que as escolas vivenciam quanto a indisciplina, falta de limites e má formação de educação básica familiar. Pois parece que isto está presente na maioria do seu alunado.

Família Educa e Escola Ensina

Certamente são reflexos de alguns dos itens mencionados acima, por falta da educação familiar.

Embora entenda as dificuldades da escola, não concebo a ruptura que estão implantando que: Família Educa e Escola Ensina.

Já disse que concordo que educação tem que vir da família, mas ao fazer a ruptura de que “Família Educa e Escola Ensina” vejo na fala/ação de algumas escolas/professores a postura de que essa não é minha parte, este não é meu dever, minha função é ensinar (história, matemática, geografia, etc.).

Isso me leva a pensar nas seguintes questões:

  • Se o aluno não aprendeu com a família dizer: bom dia, com licença, desculpa, etc. eu que não vou ensinar. Considero que  educar é missão da família e não minha?
    Vou deixar que esta criança continue sem estes princípios básicos de educação porque não faz parte do meu conteúdo acadêmico?
  • Ao ver um aluno roubando a caneta de um colega, não vou agir. Pois entendo que a função da educação para honestidade, ética, moral e valores é da família?
  • Ao perceber pelo olhar do meu aluno que ele está com algum problema emocional (talvez um problema familiar) não vou tentar ajudá-lo porque a educação emocional (e por consequência o equilíbrio emocional)  tem que ser dada pela família?

Não consigo desvincular em minha cabeça de professor e educador as duas coisas: educar e ensinar.

Fazer o papel do outro não significa ser o outro.

Claro que não estou falando aqui em assumir o papel de pai e de mãe.

Nunca conseguiremos fazer isto, pois faltam laços afetivos que nos impedem.

Nem por isto o professor estará tentando plagiar o ato de educar da família, mas sim socialmente contribuindo para a formação desta criança, que não por culpa dela, não recebeu a educação da familia que a escola/professor esperava.

Alternativas.

Estou querendo colocar em discussão nosso papel, nossa função e o que podemos fazer, caso a família não faça.

Omitir-se de alguns princípios de educação básica é fechar os olhos para os fatos. É o mesmo que dizer, isso não é minha função.

Deixar que essa criança continue assim, é  um ato para contribuir que no futuro esta criança gere filhos piores do que ela.

Família Educa e Escola Ensina: verdade absoluta?

“Família Educa e Escola Ensina” e “Eu não sou educador e sim professor” podem ser duas frases perigosas para o futuro do nosso país. Ao levarmos ao pé da letra estaremos sendo coniventes em ver um Brasil se degradando em corrupção, falta de ética, de valores, de educação básica e com tendências a piorar, mas não faremos nada, pois parte disto é dever da família e não da escola/professor.

Gostaria aqui e afirmar que discordo da frase “não sou educador e sim professor”. Sou professor e tenho competência também para educar e me orgulho muitíssimo disto!

“Não somos obrigados a cumprir o papel da família” é uma verdade até certo ponto. Quando escuto questionamentos de que a escola está virando uma residência e os professores estão virando babás, pois até o desfralde tem que ser feito pela escola/professor, fico imaginando:

  • Se a mãe tem que acordar as 5 horas da manhã para preparar a criança e alguns afazeres, depois levar seu filho na creche, pegar um ou dois ônibus para chegar ao seu trabalho, trabalhar por no mínimo 8 horas, pegar seu filho na creche que lá ficou por quase 10 horas e depois chegar em casa as 20h00, que horas esta mãe vai conseguir desfraldar esta criança?
  • Quando a creche aceita crianças a partir de 3 meses de idade (que usam fraldas) ela não imaginou que desfraldar a criança seria uma das suas funções?
  • Quem faz esta afirmação provavelmente não tem filho, não precisou de creche ou nunca trabalhou, pois caso contrario entenderia que desfraldar é função da mãe, mas quando ela não tem condições de fazer isso ela delega para a creche, a qual deverá entender que este será seu papel (pelo menos com crianças até 3 anos e 11 meses).
Criticar e ser conivente.

Ao batermos o pé afirmando que educar é função da família (e isso é uma verdade), mas vendo que a família não cumpre seu papel, se cruzarmos os braços e não fazermos nada, então seremos coniventes para:

  • Que o Brasil continue um pais de corrupções, pois certamente as famílias dos políticos e empresários corruptos não os educaram corretamente e a escola também não, pois este não era seu papel. Seu papel era ensinar conteúdos acadêmicos;
  • Que a marginalidade, os crimes, os estupros e a violência piorem cada dia mais, pois quem deveria educar para a ética, a moral, os valores, a honestidade, a empatia era a família e não a escola, pois a escola tem que ensinar conteúdos acadêmicos;
  • Que a homofobia, a xenofobia, o sexismo, o racismo e todas as intolerâncias às diferenças continuem aumentando a cada dia mais, pois educar para  o respeito ao próximo é papel da família e não da escola, pois a escola tem que ensinar conteúdos e estimular os bons valores ensinados pelas famílias, que no caso quando a família erroneamente não ensinou então não temos que o que estimular (??), vamos só ministrar conteúdos mesmo.

Certamente que o ideal era a família educar e a escola estimular o que foi aprendido em casa. Porém, sabemos que isto não está ocorrendo e não vamos fazer nada?

Claro que o ideal é que escola e família tenham um trabalho em parceria. Todavia, se a família não sabe como educar e não está educando seus filhos, não vamos fazer nada?

Reclamar que a família não educa pode ser necessário e importante. Porém,  mais importante do que isso é pararmos de reclamar para fazer algo.

Educar quem tem que educar.

Quem sabe a família também precise ser educada para educar.

Este é o papel da escola? Talvez não seja, mas será papel de quem então? Da associação de engenheiro mecânicos? Da ordem dos advogados? Da igreja? Do governo? Ou quem sabe o dia que esta criança virar um adulto, ela aprenda isso no sistema presidiário.

Creio que a escola e principalmente nós professores somos os profissionais mais indicados. Somos incrivelmente competentes para mudar este quadro, se quisermos.

Reclamar por reclamar não mudará o quadro da educação que a família tem como dever, mas não faz.

Alguma saída?

Vejo apenas duas saídas:

  1. Assumirmos que a educação é dever da família e ela não faz isso. Portanto, temos que fazer para não criarmos uma geração de futuros pais de crianças piores do que as de hoje.
  2. Educarmos os pais para que eles aprendam, entendam e assumam sua função de que precisam dar a educação básica. Assim a escola pode continuar estimulando aquilo que foi aprendido em casa.

Porém sabemos o quanto é difícil levar os pais até a escola.

Por experiência própria posso dizer que sempre fui nas reuniões dos meus filhos na educação infantil. Comparecia na escola com prazer, pois a escola me mostrava as produções deles e, enquanto pai, amava ver aquilo.

Posteriormente, da educação fundamental para frente deixei de ir às reuniões, pois a  escola não me mostrava as produções dos meus filhos, ou porque eles não faziam ou porque a escola não trabalhava com projetos com produção e criação.

Deixei de ir na escola porque ela só mostrava os boletins e diziam o que meus filhos NÃO faziam.

Assim como eu, os pais querem ver as produções dos seus filhos e não apenas o quanto são ruins. Embora seja necessário e dolorido saber os pontos negativos dos filhos.

Portanto, a escola precisa mudar a forma com que faz estas reuniões.

Copiar o que a educação infantil faz, mostrar as produções, realizar festas, etc. Por mais horrível que seja, podemos oferecer um lanche e atrair os pais pela barriga (péssimo isto, mas funciona).

Mas, principalmente mostrar as produções dos seus filhos e não apenas o boletim.

Quando conseguirmos aumentar a audiência dos pais na escola, podemos começar o trabalho de ensinar como educar seus filhos.

Não clamamos por parceria entre escola e família? As vezes temos que ensinar a outra parte, como ser um parceiro.

Leia também: A importância da participação dos pais na elaboração do PPP

Embora demorado pode ser um caminho para atrairmos os pais e conscientizá-los, ensinando qual é seu papel de educador. Pode ser difícil, mas garanto que é melhor do que reclamar e não fazer nada para mudar o quadro atual.

Reclamar….reclamar e reclamar.

‘É preciso parar de reclamar do governo e das políticas públicas, que podem até ter culpa em alguns aspectos. Mas, não seremos ouvidos, então precisamos trazer as ações para quem pode fazer a mudança, no caso nós professores!

É bom reclamar e apontar o dedo para o outro, desde que façamos alguma coisa. Reclamar e não fazer a sua parte não tem mérito algum.

Penso em alternativas para que, sabendo que a família não cumpre seu papel, alguém vai ter que assumir esta educação. Considero que as pessoas mais competentes para isso somos nós, professores.

As variáveis.

Fico inconformado com a afirmação: “A família não aceita que o filho tem problema e não traz o laudo. Sem laudo não posso fazer nada….”

Como assim? O professor sabe que o aluno tem algum “problema” e não vai fazer nada por falta de um papel?

A família é culpada porque não traz o laudo? Porém, o professor está certíssimo de não fazer nada pela criança, pois não recebeu um papel? Que lógica esquizofrênica é esta?

Temos uma BNCC pela frente onde pelo menos duas das 10 competências estão relacionadas a educação emocional, a qual também deveria ser função da família, mas teremos que cumpri-las.

Já pensaram nisto?

Não é mais uma questão de concordar ou discordar, a BNCC deverá ser cumprida!

Fechando minhas reflexões.

Quero finalizar este texto me solidarizando com todos os problemas enfrentados pela escola/professores.

Entendo e concordo com os problemas mencionados pela escola/professores, bem como pela última vez afirmo que concordo que a educação básica tem que ser dada pela família, mas que entendo que se ela não cumpre seu papel, alguém terá que cumprir, ou continuaremos criando gerações cada vez piores do que esta, as quais já reclamamos tanto nos dias de hoje.

Acredito que se continuarmos adotando criteriosamente a afirmação (sem exceções) de que a Família Educa e Escola Ensina, devemos repensar sobre a frase que passa  a ser uma hipocrisia, e que está contida normalmente no Projeto Político-Pedagogico das escola que é: “Nossa missão é formar o cidadão integral, critico e reflexivo para atuar na sociedade……“.

Oi? Formar o sujeito integral significa trabalhar com a “ensinagem” de  história, matemática, geografia, etc. e estimular a educação que NÃO receberam da família?

Deixo a reflexão para vocês, respeitando todas as opiniões diferentes e esperando que respeitem também a minha.

Prof.  Nilbo Nogueira

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